Foco no PROCESSO e não nos Objetivos

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Li e aceito a Política de Privacidade.
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Há pouco mais de 13 anos atrás, quando participava no meu primeiro evento de Desenvolvimento Pessoal, o “Unleash the Power Within” do Tony Robbins, escutei esta frase: “Não traçamos objetivos para os alcançar, traçamos objetivos para nos transformarmos na pessoa que precisamos de ser, para os alcançar!”

Confesso que na altura a frase não ressoou em mim. Talvez por culpa do nível de consciência que tinha na altura, ou porque tinha outros temas específicos em mente para trabalhar, apenas apontei a frase no meu caderno de notas. Meses mais tarde, já com um outro nível de consciência e com o foco em objetivos, reli a frase e depois de um “murro no estômago”, o sentido e significado que retirei foi totalmente diferente! O meu primeiro pensamento foi “Mas como é que eu não vi isto antes? Como?” O “isto antes” é que a frase traduz e traz para a consciência, um paradigma que grande parte da humanidade hoje vive, que é a necessidade quase extrema de alcançar objetivos a todo o custo, e quando isso não acontece, sentimo-nos falhados!

Caminho de Santiago

A frustração, a desilusão, a raiva e a culpa apoderam-se de nós. Em 2014, quando fiz pela primeira vez o Caminho de Santiago, tinha um objetivo claro: partir de Saint-Jean-Pied-de-Port na base dos Pirinéus Franceses e chegar a Finisterra, passando, obviamente, por Santiago de Compostela. Muita coisa aconteceu entre a minha partida e a minha chegada, sendo que nem tudo foi “bom”.

Desde as bolhas que me acompanharam ininterruptamente durante as duas primeiras semanas, até ter trocado as botas de montanha por uns ténis de “trail” em Burgos, às lesões, uma no gémeo direito que me obrigou a fazer uma paragem de um dia logo no 4.º dia, à canelite na perna esquerda já mais tarde à chegada a Astorga que me fez “perder” mais um dia, ao envio para casa, por duas vezes, pelo correio, de material que estava a carregar em excesso, a me ter perdido por diversas vezes por caminhos errados e que me fez voltar atrás inúmeras vezes e fazer a mais umas boas dezenas de kms, até às valentes chuvadas que me deixavam literalmente ensopado até aos ossos.

Tudo fez parte, e no final o objetivo foi atingido. Durante o Caminho fui-me cruzando com muitos outros Peregrinos, embora por opção tenha feito os mais de 900km quase sempre sozinho, mas acabávamos por nos cruzar ou numa das paragens para uma “caña y um bocadillo” ou nos jantares e pequenos-almoços comuns.

Todos tínhamos as nossas histórias, todos tínhamos o nosso motivo, o nosso porquê e para quê estar ali, e todos nós tínhamos como objetivo chegar à Catedral de Santiago de Compostela. Era esse o nosso principal objetivo: chegar a Santiago! Alguns mais preparados fisicamente para o desafio, outros menos. Alguns com tudo planeado ao detalhe, onde ficar, onde comer, quantos kms, quantas paragens, meteorologia, etc, outros – onde eu me incluía – nem por isso. Mas todos falávamos em chegar. E no propósito de querer chegar.

Pelo caminho fui escutando uma frase, que mais uma vez não ressoou de imediato em mim: “No pases por el Camino, deja que el Camino pase por ti!” Ao longo dos passos, dos kms, dos dias, do Caminho, fui-me apercebendo do verdadeiro sentido, significado e profundidade desta frase: “Não passes pelo Caminho, deixa que o Caminho passe por ti!”

Não é o destino que importa, é a jornada!

E isso levou-me de volta para a frase que escutara 7 anos antes: “Não traçamos objetivos para os alcançar, traçamos objetivos para nos transformarmos na pessoa que precisamos de ser para os alcançar!”

Era o Caminho que eu estava a percorrer, a experiência, a transformação que estava a vivenciar, e não a chegada a Santiago, que estava a fazer valer a pena estar ali. Foram as aventuras, as histórias vividas e partilhadas, que me fizeram celebrar e chorar de emoção a minha chegada ao 31.º dia e mais de 800 km depois, a Santiago. Em momento nenhum pensei desistir, embora me tenha cruzado com outros peregrinos que o fizeram, ou por cansaço extremo, por lesão, ou até por motivos de força maior ligados à vida que tinham deixado em pausa e que os obrigaram a regressar a casa.

Em momento algum pensei em desistir, o propósito foi sempre maior que os desafios que vivi. O Caminho de Santiago, além de toda a transformação mental, emocional, física e espiritual que proporciona, é uma excelente metáfora para a vida e para o mundo dos negócios.

O foco está no processo, na transformação – caminho – e não no destino – a chegada à Catedral de Santiago de Compostela.

É esse foco no Caminho e não no objetivo que nos transforma, ao longo da jornada, na pessoa que vai chegar a Santiago. Quem já fez o Caminho sabe que existe um antes e um depois.

Assim deveria ser com os nossos objetivos, eles deviam ser a consequência e não o objetivo em si!

Não me entendas mal, não vivo num mundo à parte onde não acredito na importância de atingir objetivos.

O meu passado ligado à Gestão e às Vendas na Indústria foi guiado por números, na minha empresa temos números a seguir e a medir e objetivos a atingir.

O que eu quero dizer é que hoje, resultado do foco excessivo no objetivo e na velocidade em chegar e o ter de chegar, faz com que o processo até lá chegar seja muitas vezes doloroso. Porquê? Porque o erro, a falha, os contratempos, são olhados como não devendo existir, porque se assim for, colocam em causa o atingir e o tempo de atingir o objetivo.

Não! Na sua grande maioria o erro e a falha são aprendizagens valiosíssimas que nos vão transformar e adicionar valor, não só na busca presente por esse objetivo específico, como em outras futuras buscas.

Tudo faz parte. O erro, a falha, os problemas, os desafios, os contratempos, os atrasos. Tudo. Se nos focarmos no processo.

Eu não digo que sejamos complacentes, eu digo que devemos treinar a flexibilidade. Eu digo que devemos treinar a aprendizagem e o voltar a agir com essa aprendizagem.

Foi a aprendizagem que obtive do meu primeiro Caminho que, nas outras 3 vezes que voltei, me fizeram desfrutar ainda mais da jornada, do processo.

O atingir do objetivo é importante, sem dúvida alguma! Todos temos metas a atingir e sonhos a realizar. Não podemos esquecer disso, nem tão pouco lhe retirar a importância devida.

O que não devemos é deixar que a falha em o atingir ou os erros realizados no decorrer desse percurso, afetem o nosso valor enquanto profissional ou ser humano.

É por isso que nos devemos focar no processo. É por isso que, ao nos focarmos no processo, vamos aprender e crescer como pessoa e profissional. É quando fazemos isso que nos transformamos, é por isso que o objetivo é apenas o meio para nos tornarmos na pessoa que o vai atingir, que o vai conquistar, que o vai viver.

Bom Caminho!