Hoje vamos falar sobre relacionamento íntimo.
E mesmo quem não está em nenhum relacionamento, deve ler este artigo, pois aquilo que vos vou transmitir aqui, pode trazer alguma clareza sobre o porquê de não estares em nenhum relacionamento íntimo, e também sobre o que precisas de mudar nos próximos relacionamentos.
Estou nesta área do Coaching e Desenvolvimento Pessoal, profissionalmente, desde 2007, mas foi desde 2003 que comecei a trabalhar em mim e a ganhar consciência de que algo não estava bem comigo, com os meus relacionamentos, com as minhas finanças, com os resultados que eu estava a obter na minha vida de forma geral.
Durante muito tempo, coincidentemente, muitos dos meus clientes de Coaching procuravam-me para os ajudar nos seus relacionamentos. Mesmo quem me procurava para desenvolver a sua carreira ou as suas finanças, inevitavelmente o tema ia sempre parar aos relacionamentos.
Curiosamente, era uma área em que eu também estava a ter dificuldades.
Eu próprio vivia um relacionamento que não era saudável, que tinha muita toxicidade. E o que me levou a este relacionamento tóxico, foi a interdependência da outra pessoa. Até porque é quase que paradoxal, quem diz que não tem um relacionamento feliz, é porque não mete o relacionamento em primeiro lugar.
Se nós olharmos para o relacionamento numa perspectiva transversal, por exemplo, um relacionamento de amizade, profissional ou íntimo, qualquer relacionamento que seja um relacionamento feliz, é porque de alguma forma o relacionamento está em primeiro lugar. Isso tem a ver com a disponibilidade que tens em estar presente para a outra pessoa.
Quando falamos de um relacionamento íntimo, as necessidades da outra pessoa têm que ser as tuas necessidades. Ou seja, o relacionamento tem que vir à frente de tudo.
E tu podes estar a perguntar agora:
“Então, mas se eu for colocar o relacionamento acima de tudo, onde é que eu fico, onde ficam as minhas coisas, a minha carreira, por exemplo?”
E eu respondo.
Uma coisa não tem que anular a outra, o pensamento não tem que ser binário. Isso quer dizer que, para que coloques o relacionamento em primeiro lugar, outra área da tua vida não tem que ficar para trás.
Como colocar o relacionamento em primeiro lugar?
Primeiro, só quando ganhas consciência é que as coisas mudam. Quando começas a olhar para ti, é que consegues colocar em causa algumas crenças, acreditar em outras novas e mudar. Quando começas a valorizar algo que não valorizavas antes, é aí que algo muda em ti. É quando te tornas alguém diferente, é que a tua vida muda.
No relacionamento é a mesma coisa. Tens que ter consciência do que está a funcionar e do que não está a funcionar. E acima de tudo, colocar-te a ti em causa.
Um relacionamento é como qualquer outra coisa na tua vida: o que não cresce, morre.
O grande motivo de um relacionamento perder o amor e a paixão e se transformar num relacionamento de amizade, é que o crescimento parou. Isso porque as duas partes que compõem o relacionamento se deixaram estagnar, deixaram vir primeiro a carreira, os filhos, as contas para pagar no final do mês, e o relacionamento deixou de ter a prioridade que tinha.
Quando isto acontece, é lógico que as coisas mudam.
O curioso é que para que o relacionamento venha em primeiro lugar, tu tens que te colocar a ti em primeiro lugar. Tu tens que investir em ti, crescer e perceber também do teu lado o que aconteceu para o relacionamento ter chegado a este ponto.
Nos meus anos de experiência em Coaching de relacionamentos, nunca ninguém chegou ao pé de mim e disse que precisava de ganhar consciência e crescer para transformar o seu próprio relacionamento. Todas as pessoas que vieram ter comigo, a forma como falavam do relacionamento, era a julgar a outra pessoa.
Quando dizes que a outra pessoa não faz, a outra pessoa não entende, a outra pessoa isto ou aquilo, inevitavelmente estás a julgar a outra parte do relacionamento. E quando existe julgamento, existe ausência de amor, compaixão, perdão e entendimento.
Ao te focares primeiro em ti, vais poder desenvolver em ti a consciência que precisas para levar o relacionamento ao próximo nível.
Existem pessoas que se amam, mas que não devem estar juntas, porque um relacionamento não vive só à base de amor. Embora a nossa cultura nos ensine que o amor é a base de tudo, um relacionamento também é feito de paixão, entendimento e crescimento.
No amor tem de existir essas duas dinâmicas: a independência e a interdependência.
O que eu quero dizer com isto, é que tens que olhar para o relacionamento como três identidades: a identidade do eu, a identidade da outra pessoa e a identidade do relacionamento.
Essas três identidades vão ter objetivos, necessidades e visões diferentes. E é isso mesmo que tem que existir.
Eu, por exemplo, neste momento estou focado no Ironman, enquanto para a Mónica o Ironman não lhe diz nada, não é algo que a desafie. E ainda assim, o nosso relacionamento está bem.
Outro exemplo: quando uma das partes do casal começa a fazer formações e procura o desenvolvimento pessoal, e a outra parte não, isso não quer dizer que o relacionamento não vá ser feliz. É nesse momento que tu tens a tua independência.
O fato de teres uma identidade, não interfere no relacionamento do casal, desde que ambos entendam a necessidade do outro.
É por isso que existe a identidade de uma parte, a identidade da outra parte e a identidade do relacionamento, ou seja, quando tu olhas para o relacionamento como um todo, quando entra a independência e a interdependência. Tem que existir a independência do indivíduo, para que tu possas viver a tua individualidade e identidade.
Em muitos relacionamentos o que acontece é que a pessoa se torna em alguém que não é, apenas para agradar à outra pessoa, o que leva a uma dependência no relacionamento. Inevitavelmente quando isso acontece, esse relacionamento vai ter um fim, de uma maneira ou de outra. Vai chegar o momento em que a pessoa não consegue mais ser alguém que não é, um dia ela vai olhar-se ao espelho e dizer: “esta pessoa não sou eu”.
O mais curioso, é que quando isso acontece, existe uma culpabilização da outra pessoa, quando na verdade, isso só aconteceu porque tu permitiste.
Isso aconteceu comigo. No meu antigo relacionamento, tornei-me numa pessoa que não era, para agradar à outra parte. Havia uma dependência da outra pessoa de mim e de mim com a outra pessoa. E quando existe uma dependência, esse relacionamento não é saudável. Um relacionamento saudável é quando a pessoa tem a sua individualidade, ou seja, tem as suas necessidades e objetivos satisfeitos de uma forma individual.
Amor e liberdade não têm que ser opostos. O amor não tem que ser uma prisão.
É claro que, se calhar, há coisas que enquanto indivíduo sem a outra pessoa, tu farias. É necessário haver um equilíbrio, pensar no que faz sentido viver, e continuar a viver nesse relacionamento.
Como atraímos a pessoa certa para a nossa vida?
Como atrais a pessoa certa para o teu relacionamento?
Tornando-te a pessoa que precisas de ser para atrair esta pessoa.
Isto soa contraditório, pois acabei de dizer que tens que manter a tua individualidade.
Passo a explicar melhor:
Se vou fazer obras numa casa, vou precisar de um engenheiro e de um arquiteto, para ver que alterações estruturais vou ter de fazer nessa casa. Posso constatar que para mandar uma parede abaixo, eu tenho que criar um pilar.
E o que é que isto tem a ver com relacionamentos? Tudo!
Nos relacionamentos nós temos pilares enquanto crenças, valores e identidade, que não podemos mexer, que são fundamentais. Por exemplo, eu não abdico de ter tempo para mim, para o meu estudo, leitura, exercício físico. Por outro lado, houve coisas que eu alterei quando comecei a relacionar-me com a Mónica, para que as coisas funcionassem.
Manter a tua individualidade é isto mesmo, é manteres a tua essência.
Tu podes sim, melhorar a tua essência, desenvolver, crescer, podes-te tornar em algo que ainda não és, para melhorar o teu relacionamento.
Ao fazeres isso, estás a colocar o teu relacionamento em primeiro lugar, mas ao mesmo tempo estás a fazê-lo focando-te em ti.
Quando existe o foco em ti na perspectiva de crescimento, isso não é egoísmo, não quer dizer que tu não estás a colocar o teu relacionamento em primeiro lugar.
É aí que surge a terceira identidade, a do relacionamento.
Quando existem objetivos e necessidades diferentes enquanto indivíduo, mas existem objetivos e necessidades iguais enquanto casal que são satisfeitos, tu tens um relacionamento em equilíbrio, um relacionamento “perfeito”.
Um relacionamento feliz, em plenitude, de sucesso, existe quando há individualidade a nível do “eu”, ou seja, uma independência, e depois a interdependência está a nível do relacionamento, que existe quando os dois olham juntos para o relacionamento e constroem juntos os objetivos e a visão que o relacionamento precisa.
O que impede isso de acontecer?
Falta de comunicação.
Falta de comunicação não só a nível da linguagem verbal, como a nível da linguagem do amor.
No livro “As 5 linguagens do Amor”, do Gary Chapman – que eu recomendo a leitura – ele diz que no relacionamento existem 5 formas de nós expressarmos e fazer a outra pessoa sentir o amor.
Lembra-te que as conversas desconfortáveis são as mais importantes, que tu precisas de ter.
Ainda que não seja confortável, tem uma conversa com a outra pessoa. Fala com amor, compaixão, empatia e perdão. Tem uma conversa construtiva, no sentido de juntos contruírem algo novo.
Se calhar, são essas conversas que estás a evitar ter, que vão levar o teu relacionamento ao próximo nível.
E percebe também em que linguagem estás a comunicar. Ou seja, a forma como expressas amor, e a forma como tu gostas de sentir amor.
As 5 linguagens do amor:
1) Palavras de Apreço
Há pessoas que sentem e expressam amor através de elogios, de palavras de carinho, de palavras de apreço, de forma geral.
Existem pessoas que têm necessidade de ouvir essas palavras todos os dias, e a outra parte pode achar que não é necessário falar o que já é sabido.
2) Tempo de Qualidade
São momentos especiais a dois, momentos de qualidade juntos.
Se calhar, esses momentos até são em casa, na hora de jantar, quando estás a dar atenção plena ao outro. Hoje em dia há tanto estímulo externo como televisao, telemóvel, etc, que não conseguimos estar presente de forma integral naquele momento.
3) Atos de Servir
É quando tu fazes alguma coisa para a outra pessoa. Pode ser algo simples, uma refeição, uma ajuda nalguma tarefa, dar um conforto, ou seja, servir a outra pessoa.
4) Receber Presentes
Há pessoas que gostam de receber um presente especial quando não estão à espera.
5) Contacto Físico
O toque, o abraço, um beijo, andar de mãos dadas, dormir próximos.
Essas são as 5 linguagens do amor. Todos nós podemos gostar das 5 linguagens, mas há duas que são as preferenciais de cada um.
Quais são as tuas 2 linguagens preferenciais para receber amor? E para dar amor?
E a outra parte do relacionamento? Quais são as 2 linguagens de amor da outra parte que compõe o teu relacionamento?
O teu trabalho de casa é proporcionar uma conversa com a pessoa que está contigo, e depois construir a identidade do teu relacionamento, através de um objetivo e uma visão para os dois.
E… Viva o amor!