Quando olhamos para a história da Terra, percebemos que o mundo mudou muito nos últimos anos, mas a natureza humana não tem mudado assim tanto.
Há milhares de anos atrás, quando a espécie humana ainda pertencia à cadeia alimentar e cuja sobrevivência estava constantemente a ser ameaçada, fazia todo o sentido darmos um enorme valor à gratificação e recompensa instantânea.
No final de contas, não sabíamos se o dia de amanhã iria chegar ou não.
O futuro distante não era uma preocupação para nós. Nem passavamos tempo a pensar nisso. Ao fim de milhares de gerações, as coisas mudaram para nós, e neste momento temos a dádiva de poder pensar no futuro e planear os objetivos que queremos atingir a longo prazo.
Só que o que aconteceu é que, apesar de neste momento podermos usufruir das recompensas a longo prazo, os nossos cérebros, cujo principal objetivo é garantir a nossa sobrevivência, continuam programados para preferirem recompensas rápidas e instantâneas.
Apesar de sabermos todas as vantagens e benefícios a longo prazo que podemos ter com determinados hábitos, a nossa mente continua programada para olhar sobretudo para as recompensas que podemos ter já, que estão destinadas a nós no curto prazo.
Esta nossa incoerência a nível da avaliação do tempo, é aquilo a que os economistas de comportamento referem como inconsistência temporal. Ou seja, a forma como o nosso cérebro avalia as recompensas é inconsistente com o tempo. Valorizamos mais o presente do que o futuro. Em geral, esta tendência é boa para nós.
Uma recompensa é certa neste momento, e vale normalmente mais do que uma que é meramente possível no futuro. Mas, por vezes esta nossa inclinação para a gratificação instantânea causa problemas. Regra geral, quanto mais prazer instantâneo se tem num comportamento, mais devemos questionar se ele está em linha com os nossos objetivos a longo prazo.
Será que este prazer não é apenas uma compensação que estamos a querer ter para algo de menos bom que nos aconteceu? Será que não estamos a utilizar algumas recompensas como a confirmação de um comportamento menos adequado?
Devemos ter presente as duas leis fundamentais do comportamento: Aquilo que é imediatamente recompensado é repetido. O que é imediatamente punido é evitado.
Portanto quando estamos frustrados e compensamos na comida, o que estamos de facto a dizer é que a comida é nossa verdadeira recompensa. E quando isto acontece, a recompensa no imediato sobrepõem-se à recompensa de longo prazo, que é ter a identidade de uma pessoa saudável.
A nossa preferência pela gratificação instantânea revela uma verdade importante sobre o sucesso: consequência da forma como estamos programados, a maior parte das pessoas vai andar sempre à procura de momentos rápidos de satisfação.
O caminho da gratificação adiada é o menos procurado.
Se estás disposto a esperar pelas recompensas, a competição será menor e terá com frequência um valor mais alto. Como diz o ditado, o último quilómetro é sempre o que tem menos gente.
Os dois grandes vetores para a mudança são a dor e o prazer; e o ser humano faz mais para se afastar da dor do que para procurar o prazer. Ao nível da criação de hábitos, o problema existente é que a grande maioria das pessoas sabe que adiar a gratificação é o caminho certo, os benefícios dos bons hábitos: saúde, produtividade, paz, mas no momento decisivo é raro estes resultados dominarem os pensamentos.
A melhor forma de ultrapassares isto é adicionar prazer aos hábitos que compensam a longo prazo e uma dor imediata aos que não compensam.